sábado, 1 de dezembro de 2018

Murça do Douro







Desconhecemos no termo de Murça do Douro qualquer vestígio humano ligado à Pré-História. No período de ocupação romana o lugar da Senhora da Esperança foi escolhido para cruzamento de vias. Ali se encontrava a via principal que atravessa todo o Vale dos Escorna Bois e uma via secundária que partia da via principal no lugar da Pedra Escrita (termo da freguesia de Freixo de Numão), atravessava toda a Vendada (onde existe uma série de estações arqueológicas do período de ocupação romana) e descia todo o Rumansil até à Senhora da Esperança.



No termo desta freguesia encontramos dois importantes sítios arqueológicos denominados de RUMANSIL I e RUMANSIL II. No primeiro têm decorrido importantes escavações arqueológicas, tendo sido posta a descoberto uma Vila Rústica, onde encontramos várias actividades: moagem, vinificação, tecelagem e fundição de chumbo.



Também no lugar das Areias se encontram vestígios deste período.



Segundo Pinto Ferreira na sua Obra «O Antigo Concelho de Freixo de Numão» o topónimo MURAÇ ou MUÇA Iembra o período da reconquista cristã na Hispânia e o repovoamento dos territórios deixados pelos Muçulmanos, nos séculos IX a XI. Não acreditamos, sinceramente, em qualquer acto de arabização destes territórios, pelo que muitas dúvidas poderão continuar a persistir quanto ao topónimo a origens de MURÇA DO DOURO.



Nos inícios do século XIV, Murça era paróquia anexa de Numão e pertencia a D. Dinis, que a doou, em 1 de Janeiro de 1302, à Mitra lamecense com todos os seus rendimentos, excepto a terça do bispo.



Tanto quanto sabemos, os habitantes de Murça desde muito cedo intervieram na vida do concelho. Em 1380, ao ser necessário nomear um procurador do concelho às cortes de Torres Novas, Murça é uma das povoações a subscrever o documento que nomeia o representante numantino. Nele assinam por Murça, Martim Sobrinho e João Sapateiro.



O núcleo primitivo deve ter nascido à sombra de um primitivo templo cristão, no mesmo lugar onde se encontra hoje a Matriz. Aliás todas as ruas envoltas mostram uma tipicidade e uma ancestralidade dignas de atenção e registo.



No primeiro quartel do século XVI apresentava 31 moradores. Com o andar dos tempos, o aumento da população foi ampliando o casario. Daí que no século XVII a Igreja seja restaurada e ampliada, como nos mostram datas gravadas na torre sineira. O orago desta Igreja foi e é Santa Senhorinha.



Dá entrada no pequeno templo um portal, cujo traçado lembra o manuelino pobre. Encima o campanário uma Cruz, na qual está esculpido o Senhor Crucificado, como que a recordar aos homens que é a DOMUZ DEI.



Ainda no século XVII nasce um aglomerado de casas no lugar do CASAL. O Licenciado S. da Mota, natural deste lugar, com gente de Parada do Ester ergue uma Capela no lugar, com devoção a S. João, que tinha três missas na semana.



Hoje é o citado lugar do CAZAL um conjunto harmonioso que urge salvaguardar e não destruir. Aliás, esta a ser elaborado um estudo para essa salvaguarda.



No cimo da aldeia, enterradas, continuam as pedras que serviram para moer o sumagre. A Junta de Freguesia pensa ali fazer um largo. Bom era que essas pedras fossem aproveitadas e se reconstruísse, no mesmo futuro Largo, a «memória das atafonas» que em tempos idos foram o ganha-pão para muitos habitantes de Murça do Douro.



A 22 do Abril festeja-se Santa Senhorinha. Prova da velha crença na protecção da Santa Padroeira de Murça, são as trovas que na mesma ocasião se cantavam, em grupo:



Santa Senhorinha, nossa Padroeira



És neste dia a nossa roseira.



Ai como tu não há há igual



Neste cantinho de Portugal.



A freguesia de Murça do Douro, alcandorada numa escarpa, que tem tanto de belo como de agreste, tem vindo, ao longo dos anos, a ser descaracterizada com elementos de construção sem estilo. Resta, no entanto, quase intacta, a zona (já atrás referida) do CAZAL, que deve ser sujeita a um «Plano de salvaguarda».



Dentre o Património Religioso salientamos:



- A IGREJA MATRIZ - dos séculos XVI-XVII (na fachada existem as datas de 1670 e 1692) é da invocação de Santa Senhorinha. É de nave única e pórtico em arco de volta perfeita. A fachada principal é coroada com sineta de duas aberturas sineiras. Os altares são em talha de estilo nacional.



A Capela de S. JOÂO - em ruínas, datando do século XVII. Era de planta rectangular. Subsiste parte da frontaria, em cantaria, onde se salienta a porta em arco do volta perfeita enquadrada por pilastras e encimada por inscrição.



- A Capela e Ermida de NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA - do século XVIII, de nave única, pórtico em arco abatido encimado por friso a óculo quadrilobado vazado; coroamento curvilíneo na frontaria.


 Foto:ZÉ NUNO

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