sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

SABE COMO SE PRODUZIA GELO EM PORTUGAL ANTES DO FRIGORÍFICO SER INVENTADO?




Os Reis e a corte há dois séculos já tinham a resposta, mesmo antes da invenção do frigorífico. Pediam ao neveiro mor e ele tinha o gelo no antigo Martinho da Arcada em Lisboa ou no Café do Gelo, no Rossio.


No topo da Serra de Montejunto, 600 metros acima do nível do mar, virada a norte, numa zona fria e húmida ergueu-se a Real Fábrica do Gelo. Durante cerca de 120 anos dali saiam blocos de gelo que refrescavam a corte e, mais tarde, os cafés mais chiques de Lisboa. Em 1850, com a invenção do frigorífico, entrou em declínio. Se não fosse o eletrodoméstico, seriam as alterações climáticas a ditar o seu fim.


Grande marco da arqueologia industrial, é a única do seu género em Portugal e Europa, sendo um símbolo da tecnologia medieval.

A sua construção teve início em 1741, e terá custado entre 40 e 45 mil cruzados, despesa megalómana para a época, com vista a satisfazer a grande procura de gelo que existia por toda a capital. Representou um grande avanço na qualidade e higiene do processo utilizado para a “produção” de gelo, dado que este passou a ser fabricado nos tanques da fábrica e não colhido após o vento o ter amontoado, como sucedia até então.

A sua construção terá tido como principal objectivo colmatar as falhas sistematicamente registadas nos fornecimentos da Serra do Coentral.

Quase tudo o que se sabe sobre a actividade da Real Fábrica do Gelo deve-se à tradição oral, nomeadamente a testemunhos de descendentes de pessoas que trabalharam no fabrico do gelo.

Conta-se que quando chegava o mês de Setembro enchiam-se os tanques rasos de água e durante a noite esperava-se que o frio a congelasse. Quando o gelo se formava, o guarda da fábrica ia a cavalo até à aldeia de Pragança e, com uma corneta, acordava os trabalhadores. Antes do nascer do sol, num trabalho árduo e duro, as placas de gelo eram partidas, os fragmentos amontoados e depois carregados para os silos de armazenamento, onde o gelo era conservado até à chegada do verão.

Na época do calor, decorria a complicada tarefa do transporte até à capital do reino. Primeiro o gelo era transportado no dorso de animais, para vencer o acentuado desnível da serra. Seguia depois em carroças que o faziam chegar, o mais rápido possível, aos “barcos da neve” ancorados na Vala do Carregado. Estes barcos completavam o circuito do gelo, transportando-o até Lisboa, a capital do reino.

Estima-se que a actividade da Real Fábrica do Gelo tenha cessado em finais do Séc. XIX, tendo caído no esquecimento por quase um século.

O complexo da Real Fábrica do Gelo foi considerado por inúmeros especialistas internacionais "como um caso único pela originalidade das suas estruturas e pelo razoável estado de conservação".

 





Fotos: Municipio do Cadaval


Recriação histórica do funcionamento da Real Fábrica do Gelo

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