sábado, 10 de novembro de 2018

Ucanha: um lugar no Douro que parece fantasia



 


UCANHA é uma freguesia do concelho de Tarouca, que se encontra enquadrada ao longo da encosta que desce em direção ao Rio Varosa ou Barosa.

O topónimo Ucanha deriva de Cucanha, forma usada até ao séc. XVII, tratando-se de um vocábulo que pode designar casebre ou lugar de diversão.

O curso de água, acompanhado por salgueiros e amieiros, ampara uma ínsua entre a ponte de Ucanha e a ponte nova, a qual é desfrutada como praia fluvial. Esta freguesia marca a entrada do antigo couto do Mosteiro de Salzedas, onde são conservadas ainda dentro do seu limite as ruínas da Abadia Velha de Salzedas. As casas, essencialmente unifamiliares, ornamentam-se de varandas em madeira, com o realce do vermelho, azul e verde nas suas pinturas. Com escadas exteriores apresentam quase sempre dois pisos, cujo piso térreo é utilizado para as lojas, destinado essencialmente para uso agrícola, enquanto o segundo piso se destina à habitação.







A ponte de Ucanha, cujas origens remontam, provavelmente, ao período romano. A prova da sua antiguidade é ser citada como antiga já antes de 1146, na carta de doação de Gouviães por D. Afonso Henriques o seu Monteiro-Mor, Paio Cortês.

Contudo no Séc. XII, foi construída na testa da margem direita ( onde hoje é a povoação de Ucanha, então chamada " vila " da Ponte, sendo Ucanha o sítio que aí se começou a povoar), um arco provido da sua porta, e , sobre ele, um edifício para armazenar as portagens cobradas nesse arco pelo senhorio do couto ( o mosteiro de Salzedas desde 1155-1156 ) aos que nele entravam, seguindo a via romana, sendo esta uma importante via para Lamego, pelo que ali se fixou uma população de funcionários encarregados da cobrança dos valores da portagens, sendo construídas instalações e casas.

A Torre é de base quadrada, com três andares. Por baixo da Torre, na própria construção, deixou-se um arco abobadado que dá passagem da vila para a ponte. Na face da torre, do lado da vila, e à direita, vê-se uma inscrição um tanto desgastada na qual ainda se pode ler " Esta obra mandou fazer D. Fernando abad ..." inscrição que está gravada numa espécie de " edicula ", e cortada verticalmente por um báculo abacial. O abade D. Fernando de que aqui se trata, governou Salzedas de 1453 a 1474, espaço temporal em que a torre foi reconstruída.

A parte inferior da torre, assim como o arco de volta inteira e túnel de passagem, têm toda a expressão de uma edificação românica do século XII.

A ponte na sua primitiva estrutura de torre com um só piso, funcionou com o imposto de barreira ou portagem. Documentos de 1315 e 1318 determinam a obrigatoriedade da passagem na ponte e o respectivo pagamento, prática que só veio a ser abolida no reinado de D. Manuel I , no ano de 1504.
Não restam dúvidas da importância desta via de passagem desde a antiguidade. Por sua causa travou-se de 1310 a 1320 acesa e longa questão, em que intervém o antigo concelho de Castro Rei - Tarouca - que sempre desejou e obteve embora temporariamente passagem pela Vila, tendo como opositores o mosteiro de Salzedas que defendiam a obrigatoriedade da passagem pela ponte e torre de Cucanha sobre o Rio Varosa.


 





Nesta pequena aldeia perdida no Douro, nasceu o célebre filólogo e etnólogo José Leite de Vasconcelos, falecido em 1941 e o santo padroeiro da terra é São João Evangelista.

Um passeio sereno com monumentos bonitos e interessantes e paisagens sobre as também pacificadoras vinhas do Douro, é o convite mais delicioso que esta aldeia de sonho lhe faz, onde o espaço cultivado e as poucas casas habitadas lhe dão a certeza, numa das mais belas regiões do país, da tranquilidade que um visitante cansado do frenesim da cidade pode encontrar.

Como já referimos a Torre e a Ponte de Ucanha são joias raras do património edificado, sendo esta última considerada a mais bela ponte medieval de Portugal, mas também não pode deixar de visitar


as ruínas românicas de Salzedas, no local de Abadia Velha, a Igreja Paroquial de Ucanha e património integrado e o conjunto de casas da Judiaria antiga. Todo o passeio tem de ser feito a pé, pois é fundamental apreciar as cores e ambientes de harmonia que aqui vai testemunhar ao caminhar nas suas ruas estreitas. Não receie perder-se. Aqui só há a rua Principal, rua Direita ou simplesmente Rua, por se tratar da única! Aproveite, igualmente, para espreitar as Caves da Murganheira para poder apreciar o seu famoso espumante com as caves esculpidas nas rochas.




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