sábado, 7 de dezembro de 2019

Os Moliceiros de Aveiro



 O atual ícone da cidade de Aveiro é o barco Moliceiro.






O Moliceiro, como o seu nome indica, era um barco de trabalho utilizado para a apanha do moliço, uma alga aquática (agora escassa) utilizada para adubar os terrenos agrícolas de quase toda a região de Aveiro. O seu recurso predominava desde Ovar até Mira, variando as suas dimensões consoante a zona navegada.

Correndo o risco de desaparecer devido à quase extinção do uso do moliço, o moliceiro foi recentemente preservado, alvo de uma metamorfose proporcionada por uma nova realidade económica. Reinventado como símbolo cultural da ria de Aveiro, é agora orientado pelo sector turístico.

É na Murtosa que estas criações nascem. Em média, são necessários cerca de 25 dias e 2 homens para a construção de um moliceiro. É essencialmente construído em madeira de pinheiro manso e bravo, espécie predominante na região de Aveiro. O seu tempo médio de vida é de 7 anos.

Actualmente há pouquíssimos construtores navais dedicados à construção de moliceiros. Um deles é João Herculano, da Murtosa, que diz ser um “trabalho difícil mas que vale a pena porque dignifica a embarcação e permite que não se perca esta memória”.



O barco moliceiro tem cerca de 15 metros de comprimento e 2,5m de largura. A sua borda baixa facilitava o carregamento do moliço, mas são as suas elegantes proa e ré que, com as suas pinturas, o distinguem das demais embarcações portuguesas. São decorados com pinturas que, apesar da técnica perene, abordam temas que que se alteram com os tempos. Estes motes são devidos às transições socio-culturais na História de Portugal.

As pinturas dos moliceiros são sempre compostas por texto e imagem. Começaram por ser uma espécie de jornal da Ria, uma plataforma para expressar a opinião e os acontecimentos entre as pessoas de Ovar, Murtosa, São Jacinto, Ílhavo, Mira… O que se passava nestas localidades era representado nestas pinturas. Eram e são uma forma de comunicação que relata a actualidade, homenageia figuras queridas ou satiriza outras indesejadas.



Antigamente, era o próprio construtor naval quem pintava os moliceiros. Depois, por questões de poupança, passaram a ser os proprietários a fazê-lo. Actualmente, é um trabalho encomendado a artistas da região que primam pela preservação desta tradição. Mas quase sempre, os seus autores permanecem em anonimato.

Marisa Carvas, professora de desenho, é uma das atuais pintoras que dão a mão ao “manifesto”. Conta que, geralmente, eram sempre duas as pessoas que pintavam os moliceiros. Este conjunto de pintores poderia resultar da parceria entre 2 homens, 2 mulheres ou um homem e uma mulher. Destas parcerias saía sempre um resultado distinto. No primeiro caso, a pintura seria um pouco machista, ao contrário do segundo caso. No terceiro caso, a pintura era sempre mais comedida. Quando eram os proprietários a decorar o barco, geralmente um casal, por vezes representavam-se a si mesmos. Se estavam zangados, o homem e a mulher surgiam de costas, se estavam bem, surgiam de frente. Faziam-se acompanhar por dizeres e representações algo “brejeiras”. 



texto adaptado: daqui

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